Balanço da Época: 4º Momento de Avaliação.

28/08/11




Apesar da época já ir longa para muitos, para mim ainda não, pelas razões que todos aqueles que vêm acompanhando este blogue muito bem sabem. Porém, isso não significa que não tenha atingido já algum momento de fadiga acumulada. No entanto, a despeito de me ter faltado um ou outro evento nos últimos tempos para manter a "coisa" ativa, não quer dizer que não esteja disponível, acima de tudo psicologicamente, para andar com os bofes de fora. É para isso que trabalho nesta fase, para enfrentar algumas eventos datados na minha agenda.
Após umas férias familiares que reforçaram, e de que maneira, a auto-estima e auto-confiança, para além do envolvimento social que elas proporcionaram, cumprindo assim o seu principal desígnio, e a despeito de não ter podido, por via das opções referidas, dar oportunidade ao corpo de se esmifrar em gemidos e outros alaridos, conforme agendo para Agosto, pelo menos por uma vez e a propósito da realização do raid BTT da Malveira, cuja participação se estava a constituir num clássico para mim, eis que me vi, após Oleiros, na necessidade de retomar os níveis de acondicionamento físico e de ativação fisiológica a que um atleta, no caso mais triatleta, está a obrigado, se pretender apresentar-se num nível minimamente aceitável, como pretendo em Itália (ler último post) e até ao fim da época. Tábua serviu então para isso mesmo; o retorno a tempo (quase) inteiro e serviu na perfeição. Nadar na barragem da Aguieira foi um bom tónico para voltar a sentir o prazer de "correr na água". A corrida, essa tem sido a mais envolvida no processo de preparação, e continuou, sentindo-me neste momento em boas condições para "soltar os cães". O ciclismo é apenas uma questão de manutenção, já que adquirir um nível superior obriga a outro empenho, mais volume, preterindo para tal as outras variáveis e isso eu não quero. Como está não está mal, é apenas retomar onde estava. Penso que isso já foi alcançado. 
De volta a Esposende há cerca de uma semana, retomei o trabalho diário de treino como já não o fazia desde que parti para os caminhos de Santiago. E foi o retomar do saudoso ritmo. Claro, muita coisa vai ficando para trás, porque falta tempo quando nos dedicamos ao treino. O benefício de ainda me encontrar de férias, embora por pouco mais tempo, permitiu-me aquilatar que afinal a natação já parece estar ao nível em que me encontrava em Julho, o ciclismo já falei e a corrida é que me está mais facilitada, mais solta, mais descontraída, pronta para enfrentar um plano exigente de preparação para o dia 6 de Novembro próximo, no Porto. Esta a excelente notícia. E já que abordo a corrida, quero dizer-vos que tenho dois objetivos em mente para distâncias longas: baixar de 1h e 30 na meia-maratona e das 3h e 30 na maratona. Estes os meus propósitos imediatos. Nem que seja em apenas 1''. Se o conseguir pago um bife a todos vós. Ops! Tenho apenas uma condicionante: a planta esquerda do meu pé continua a chatear-me após 1h de pressão na passada, o que quer dizer que irei sofrer a valer no dia 6 de Novembro. Agora com mais experiência, pode ser que isso me valha alguma coisa.
No que diz respeito a competições, estou em várias frentes; Maratona do Porto, então, Triatlos de Vila Nova de Cerveira, Póvoa de Varzim e possivelmente de Abrantes (a ver vamos), o duatlo de Santarém é um clássico, não gostava de o perder de vista, e ainda gostaria de concretizar outro sonho definido no início da época; a participação no ultra-trail. Como o calendário é rico em eventos do género, não haverá dificuldades de maior. O problema será mesmo saber se o poderei conciliar com a maratona da cidade invicta. Vamos ter de conversar, eu comigo. Também uma ou outra maratona BTT. 
O outro grande objetivo do ano foge-me mais uma vez; o triatlo longo. E foge-me porque por um lado tive azar, pelo outro talvez tenha planeado mal as coisas. É que aquele campeonato da Finlândia passou-me mesmo ao lado. Em todo o caso, isso teria significado abdicar de várias coisas muito importantes na minha vida, sendo que algumas decisivas, entre elas as férias familiares. Mais oportunidades virão. Sim, porque ao contrário de muitos crentes, eu não vejo como possível o cumprimento do longo de Tróia. Nã me cheira e eu já não acredito no pai natal. Mas, se vier, excelente!
Em termos de condicionamento, nada melhor que participar em eventos para aquilatar das minhas capacidades atuais. Em todo o caso, penso que estarei entre o nível 2 e 3 da minha preparação, isto é, onde me encontrava antes de partir para percorrer Espanha. Relembro que 3 é o nível máximo estabelecido por mim para mim. O peso também está onde estava em Julho. Bom talvez ligeiramente acima; 68 kgs, longe dos 65 quando terminei "os caminhos" e dos 66 que constituem o principal objetivo. Tenho um problema grave com a gula e com a doçaria, em particular, o meu grande nó-górdio. Não se é perfeito e ainda bem.
No próximo fim-de-semana poderei ter uma ideia de como me encontro a nível do ciclismo e na corrida, dado que planeio participar no Bike Camp da Póvoa, estrada, e no duatlo promoção de Recardães, distância sprint.


Uma nota para os companheiros que têm concretizado o sonho de cumprir o Ironman; fantástico! Levam-me até a insubordinar-me comigo próprio e desejar também fazer a distância. Depois, caio em mim e relembro-me das dificuldades que ainda sinto com algumas mazelas e volto a ter juízo. Mas, anda cá a remoer. Se conseguir resolver algumas coisas que me têm amiúde chateado, posso projetar para 2013 uma coisa do tipo. Antes, já seria muito bom cumprir uma distância como aquela que decorreu na Finlândia no mês corrente, a propósito dos campeonatos da europa da distância. Quando fizer uma ou duas coisas do género, lanço-me à tarefa.  


Companheiros, até breve e vão treinando. 
Abraços triatléticos.


Campeonato da Europa de Masters!

21/08/11





Como havia prometido, divulgo hoje a competição para a qual estou a afinar a minha pontaria: em setembro espera-me o Campeonato Europeu de Masters, a disputar em Lignano-Sabiadoro, Itália.
Este campeonato, cuja divulgação já havia sido feita neste espaço, é uma espécie de jogos olímpicos para veteranos, mas não só. E como qualquer competição tipo olímpica, inclui os mais variados desportos, entre eles o triatlo, pois claro. A minha intenção, confirmada aquando da inscrição para o efeito, é participar nas modalidades de ciclismo e triatlo. Também gostaria de fazer o pleno e incluir uma prova de atletismo, tipo 5 ou 10 kms. Mas, dada a proximidade entre as provas, não vai dar mesmo. Porque quero estar em boa condição aquando da prova principal, o triatlo. A competição também tem, como não poderia deixar de ser, uma forte componente social e, atendendo a este facto, espero conhecer gente de bem, como certamente irá suceder. Só assim vale a pena.
O triatlo é constituído pela vertente sprint. Nada de especial, portanto, e o ciclismo terá uma prova de estrada, na distância de 70 kms, para o meu escalão, sendo que os 15 primeiros respetivos estarão apurados para o contra-relógio, competição onde gostaria muito de pôr o pedal. Entretanto, um contratempo já deu à costa; a antecipação da prova de triatlo, que assim vem pressionar a evento de ciclismo. A ver vamos.
A competição decorrerá entre os dias 10 e 21 do mês já referido e vai ser para usufruir à grande. O local do evento é bastante apelativo, uma zona balnear banhada pelo mar adriático, norte de Itália, não demasiado distante de Venice, e por isso muito procurada, a julgar pelas informações obtidas.  Espero apenas que S. Pedro ajude à festa.

Proximamente, farei o 3º balanço da época.

Abraços, companheiros.


Summer HolidaysTraining Plan

18/08/11






(Parceiros de treino e staff técnico, com nutricionista e tudo)



Pensei bastante antes de o divulgar. Mas, depois de refletir melhor, concluí que poderia ser suficientemente altruísta para divulgar aquele que poderá ser (será?) um bom plano de treino para triatletas, e outros atletas, no período de férias, ou melhor, num período sem competições.
Confesso que terá sido esboçado em cima do joelho e que “talvez” tenha dado maior relevo à variante social do treino. Talvez tenha até comprometido alguns objetivos pessoais para o evento competitivo que se aproxima, a passos largos, e para o qual gostaria de estar num momento alto de forma e sobre o qual falarei muito proximamente. Ainda procurei resistir aos “chamamentos” iniciais, mas um homem não é de ferro, e uma constipação extemporânea deu cabo do resto. Desculpas, dirão…
Deixo-vos o “plano”, com imagens para melhor perceção.
6ª feira, dia 12 –  Treino normal antes da entrada em estágio. Até aqui, nada de novo.  Viagem incluída. Chegada ao local de estágio (Oleiros) tarde, muito tarde, como convém em tempo de férias. Reforço alimentar às quase 12 badaladas, mais coisa, menos coisa. Nutrição: Proteínas pica-pau. Líquidos: IceTea, fase inicial, ainda com a vontade da força ao comando. Depois, bejeca, já só com a força da vontade.
Recuperação ativa: passeio pelo recinto da feira, no caso a Feira do Pinhal, e assistência ao espetáculo multimédia agendado (muito giro), em pé (apelo ao sacrifício pessoal) após 3 horas de treino na hora do calor de 6ª feira e de uma viagem quase com destino a Espanha, não fosse um telefonema feito na dúvida mudar a rota (em matéria de orientação não se pode confiar nas mulheres). Esta parte deve ser evitada. Para isso, tomem o comando da coisa. Hora de recolha aos aposentos: 3 da matina.  Treino das competências volitivas extra: graças à colaboração duns caramelos que resolveram desmontar um palco às 3 da manhã, esta fase da recuperação foi feita a treinar algumas destrezas de natação, tipo viragens, braçadas, bocejos, etc.  na cama, claro. O calor, a cama nova, mais a gripe que já estava a caminho ajudou à festa; uma noite sem pregar olho.

(Só para inglês ver...dá para acreditar?...)

Sábado, dia 13 – Se não há sono a seguir a uma noite não dormida e há como vontade o trilhar estradas novas e desafiantes, micadas aquando da passagem noturna no dia precedente, levantar às 7h30’, vestir os collants, pegar na bicla e pedalar até Sertã. São cerca de 55 kms num ida e volta muito interessante.
2ª refeição do Dia, ida a uma  praia fluvial, no caso Oleiros, e sentir as condições futuras de treino. Uns  mergulhos para saber que não é fácil nadar ali; pela temperatura da água e também pela resistência que ela oferece. Em matéria de nutrição, à que procurar continuar a resistir às investidas dos amigos, por muito bem-intencionadas que sejam, especialmente nos líquidos. Se a noite que não se dormiu ainda não faz mossa, à que visitar o recinto da feira e saborear, a convite dos anfitriões, as diversas iguarias que a mesma oferece. A nível nutricional, introdução das filhoses, eu que pensava que isto só existia no Natal. Primeiro pensamento, estou  desgraçado!!!
Para atenuar os efeitos de uma nutrição demasiado… nutritiva, corrida de 30’ ( no caso até às piscinas fluviais, com calor q.b., e na companhia de futuros triatletas (ação promocional). Há a acrescentar ao plano nutricional os queijos da terra, mais o maranho, especialidade da terra, mais o licor de medronho, mais o vinho de cor e sem cor, mais isto e aquilo e …as filhoses.
Treino noturno; assistir ao espetáculo dos Migueis (já citados em post anterior), após uma dormidela de olhos meios abertos sentado numa cadeira de ferro. Foi suficiente. Nutrição: uma bejeca ou outra. Não é para evitar.
Hora do recolher: 3 da manhã, nunca antes.
(Imagens da nutricionista privada e da esposa, não fosse o diabo tecê-las)

Domingo, dia 14 – Dia do almoço de família. Noite dormida, finalmente! Mas, insuficiente, ainda. Alvorada às 9 da matina (não há hipótese). Aposta na nutrição; as tais filhoses mais o arroz doce que a querida anfitriã promovida a nutricionista privada faz questão de satisfazer aqui o Je. Receber bem é assim, pode-se recusar? Criem no vosso plano estas condições.
Com tanto calor, o plano é…descansar. E estagiar para o almoço. Aposta total na dimensão social. Nem há tempo para um salto às piscinas.
Tarde: derivação pelo calor, matando saudades dos familiares da esposa, agora meus familiares. Nutrição controlada.
Noite: Fogo-de-artifício, um espetáculo muito próprio em Oleiros. Imperdível! Só que… às 2he15 da manhã. Até lá, encher chouriços. Eu aproveito para um recover e pequena sesta num muro de pedra que circunda o edifício do Município. Quando se tem sono, dorme-se em qualquer lugar. E resultou, estou pronto para mais umas horas. Escolha do melhor local para observação do espetáculo e a escolha vai para…lugar com ingestão de monóxido de carbono, para potenciar o metabolismo celular na ausência de oxigénio! Vamos ver se resulta.
Hora do recolher: 3 da manhã. Ainda tempo para piscar o olho ao arroz doce e dar-lhe algumas valentes dentadas.
Segunda-feira, dia 15 – Último dia do estágio, previsão de treino intenso. E foi.  Alvorada às 9 da matina. E finalmente, um pouco de ação: corrida de 41’ debaixo de intenso calor (hora do almoço), entre as Várzeas e as piscinas, com passagem por Oleiros. 8 kms no total, com rampas, ui! Natação de 15’ para refrescar tudo; a memória, os músculos, o corpo do calor, o calor do corpo,  a noite dormida-que-teima-em-ser-mal-dormida.
Nutrição ao almoço: sardinhada. Líquidos controlados, exceto o licor. Mais arroz doce, mais filhoses, mais maranho.
Finalmente uma sesta. Assim-assim, mas alcançou o propósito.
Saída para o treino noturno: passagem pela Panasqueira, mas de carro. Empenas desafiantes para pedalar. Vai ter de transitar para um plano futuro. Visita a mais familiares. Mais comida, mais sumo de uva tratado de forma caseira, mais isto e aquilo. Mais uns quantos garrafões para trazer. Mais prazer.
Jantar em casa de familiares amigos do peito. Plano nutricional rico em proteínas e calorias vazias: maranho, leitão, vinho, cerveja, salada, bolo de chocolate (que nervos…), mais licores e etc.
Treino noturno no recinto de espetáculos da Feira do Pinhal, para assistir à atuação de Pedro Abrunhosa. Um espetáculo dentro do espetáculo. Entrada em cena do plano nutricional de reforço: “loiras”, umas atrás das outras, tipo filinha pirilau. Dança, também. Duas ou três da manhã; a coisa está a render e prolongamento do treino até ao cair do pano.
(Afetos bons...)

(Boa disposição, sempre)

É a última noite do estágio, há que dar tudo. Dança, beijos e abraços, troca de mimos e afetos, mais cerveja mais risota e gargalhada, mais dança, mais fotos, mais cerveja…repetir até cansar.
Hora do recolher: 6 da manhã, em abraços e sorrisos estampados no rosto.
(Noite de perdição)


(Pedro Abrunhosa em ação)

(E dança...)

(Dança...)

(...dança...)
Balanço do estágio: reforço das energias positivas para um ano, que se avizinha difícil. Objetivos claramente ultrapassados a nível social. Uns quilinhos a mais, ah pois….Mas, se faz bem ao coração e à cabeça, também fará às restantes componentes do organismo. João dixit. Os outros níveis…recomeçam agora. Ontem já foi um dia duro/normal. Hoje continua.
Um conselho; procurem recriar as mais fielmente possível as condições aqui referenciadas, caso contrário não resultará. Bons treinos.
(Futuro triatleta, o de azul - amigo Francisco)




Companheiros, espero que as vossas férias estejam a ser no mínimo igualmente deliciosas. Abraços e até breve. 


Não Me Chateies Que Eu Agora Tou de Férias!

14/08/11



A Feira do Pinhal, em Oleiros já o sabia, tem muito para ofertar a quem a visita, e a vinda de vários artistas de qualidade só a abrilhanta ainda mais. Agora, e estando de férias, não esqueço os "deveres" e se Oleiros puxa pelo cabedal. Se quiserem um lugar para subri e descer, subir e descer a valer, venham até cá, à região, e vão perceber porque digo que há muitas mais serras que a a da Estrela. Até lá, não me chateiem que eu agora tou de férias!...
 












Caminho Francês de Santiago em Números (redondos)!

03/08/11





Caminhos de Santiago também têm números, e este, o francês, não foge à regra. Todos os resultados que irei divulgar servem tão só para terem uma ideia e poderem, quiçá, servirem de luz para todos os que pensam dar-se ao trabalho de se porem a caminho neste ou noutros parecidos. 

Antes, algumas considerações: 

  • O dinheiro gasto referido é uma estimativa, mas não anda longe. Pode até ter sido um pouco menos ou talvez um pouco mais, mas nada de grandes desvios ao anunciado. E tem tudo incluído (transportes, refeições, deslocações, albergues, supermercados...)
  • O preço por estadia em Albergue é quase sempre chapa 5€, mas...alguns há que excedem ligeiramente, podendo ir até aos 8 €. Depois, há ainda os Albergues municipais ou ainda os particulares, que cobram um pouco mais, podendo ir até aos 9, 10 €, os últimos referidos.
  • Dos valores apresentados, há ainda a referir que os gastos poderiam ter sido melhor geridos caso a experiência fosse maior e neste sentido tivéssemos aproveitado melhor a oferta dos serviços da cozinha. Por isso, aquele valor global pode baixar um pouco.
  • Todos os outros resultados apresentados são-no por aproximação.

Resultados:
  1. $ gasto = 500 €
  2. Horas a pedalar = 51 h e 38'
  3. Kms = 851,85
  4. Kcalorias gastas a pedalar = 20700
  5. % de esforço despendido = 46% média
  6. Nº de horas a correr = 3h 21'
  7. Nº de kms corridos = 35,86 
  8. Nº de refeições/dia = 4/5
  9. Preço/albergue = 6 €
  10. Nº de dias = 8
  11. Preço aluguer compartimento Sud-Express/3 pessoas = 80€ cada

Ainda pretendo fazer o balanço final desta aventura. Até lá, forte abraço a todos os que têm seguido esta aventura.


Caminho Francês de Santiago: Dia VIII, Último dia!

01/08/11




Umas horas após a bem disposta jantarada da noite anterior, acordei convencido de que iria de facto completar a travessia de Espanha pelos afamados caminhos de Santiago, conhecido este pelo caminho francês, num prazo de oito longos dias. Os meus companheiros também o desejavam, apesar de a determinada altura termos duvidado, e não fosse aquela incursão por estrada durante um dia e meio e muito provavelmente não estariamos a cerca de 120 kms de Santiago de Compostela. Em todo o caso, a tarefa não seria de todo fácil, porque havia o calor, a despeito da manhã bastante fresca, sempre, a obrigar-me a encorpar o casaco térmico (boa lembrança) e as luvas fechadas (outra boa lembrança). Ainda não sabia bem o que iria apanhar pela frente, mas de uma coisa tinha a certeza; hoje era para chegar ao destino, desse por onde desse. E por trilhos, porque foi para isso que aqui vim. Sem discussão.
Quando despertei, também os companheiros começaram a movimentar-se. Os outros, o Carlos, a Nabila e o Rúben, mais um checo que ali se acomodou, todos dormiam profundamente. Os shots da noite anterior terão sido  excelentes sudoriferos. No final, já prontos para iniciar aquela que se esperava ser a última etapa, deixámos um papelinho (sugestão do Pajó) para lhes deixar um pouco do nosso carinho pelos momentos bons que passámos juntos, momentos que ficam do lado esquerdo do peito.
Quando meti os pés aos pedais, os músculos rangeram, o coração espirrou a custo, mas a mente mandava e tudo o resto teria de obedecer. Começámos sem nada no estômago. Sabíamos, veteranos que já éramos, que mais à frente haveria de aparecer uma daquelas tendas de bocadillos e café com leche grande, o maior que tivesse. Ainda demorou um pouco, mas lá apareceu. Até lá, levámos com umas subidinhas a prenunciar um trajeto difícil até ao fim. Não iria ser fácil. E connosco, muitos peregrinos madrugadores. Aliás, pela manhãzinha apanhamos sempre mais, porque iniciam cedo a sua trajetória e demora algum tempo até que os vamos encontrando a espaços. O engraçado é que parceiros de bicicleta nem vê-los. Seriámos os mais precoces do dia?
Pequeno almoço tomado e a coisa era outra. Num ápice, o corpo rejubila, procurando enganar o cansaço. E lá vamos. Os trilhos são muito bonitos, mas desafiantes, num constante sobe e desce. A páginas tantas, vimos uma carrinha do tipo da minha que diz transportar mochilas. Há negócio para tudo, até para aliviar as penitências da alma. Já bem próximo da hora do almoço, eu e o Zé alcançamos uma italiana de bici, toda cheia de patrocínios, como veio a confessar.  Romana, da AS Roma, e após alguns minutos de converseta, deu-nos uma dica que seria utilíssima; em Melide havia a especialidade do polvo. Hmm, a ideia era um motivo mais para chegarmos depressa. Assim foi, passados 7/8 kms lá estávamos. Antes, inseríamos o Pajó no comboio porque tinha descarrilado algures e vindo por estrada. Quando aportámos ao restaurante, um numeroso grupo de espanhois, de Barcelona, namorados e namoradas, ficaram delirantes com o meu dragão verde. Ela perguntou-me logo se poderia buzinar no dito. Com aqueles olhos em delírio infantil, como se recebesse o primeiro brinquedo da sua vida, disse-lhe que sim. E ela buzinou. E eles riram todos. E eu disse-lhe que tinha outro dragão para buzinar, só que não apitava. Eles olharam para mim perplexos, mas depois, perante a minha cómica expressão, perceberam que era para todos brincar, e riram e gargalharam até mais não. Foi um momento marcante de efusiva e espontânea alegria. Pelo meio da conversa, alguém quis vender-me a mulher, pela bicicleta. Disse-lhe que se comesse mais polvo aquilo passava-lhe. Mais risos.
Bom, mas tínhamos de comer, esse o propósito principal, e assim o fizemos. O manjar estava uma delícia, apesar de regado com cola, daquelas, sabem? Naqueles pratos algo já lembrava a gastronomia portuguesa; o  farto azeite, a batata cozida a acompanhar. E claro, o polvo, aos pedaços, numa giratória de madeira. Havia ainda a salada e os pimentos. Ficámos plenos. E aparece a italiana. Salta de imediato o Pajó que a convida e ela aparece. Trocamos frases e ideias de hábitos e práticas de vida, mas temos de ir à nossa vida. Ela diz que ainda vai bater uma siesta antes de se fazer à estrada. Nós íamos fazer o mesmo, mas em cima da bici.
Faltam-nos 60 kms e temos cerca de 4 horas para o fazer, mais coisa, menos coisa. 
Mal haviamos retomado o curso, lá vêem novamente os espanhois de Barcelona e ela quer novamente tocar na buzina. Tou tramado. Tenho de me desviar, com um sorriso. Andavam meio desorientados, dizemos-lhes qual a direção que devem tomar e vamos. Mais à  frente, alguém ao ver passar as bicicletas grita Portugal! Viva, responde-se. O sol aperta a coisa, os trilhos não estão nada fáceis. Eele é um constante sobe e desce e o cansaço acumulado. O Zé aguenta-se à bronca, coitado. Não baixa os braços, nunca se queixa. Mete o seu ritmo e cerra os dentes. É para acabar hoje. 
Tempo para lanchar e refrescar os corpos e as ideias. Bocadillos, que haveria de ser? com presunto e queijo, tudo serrano. Mais cocas, daquelas, sim. Ao retomar a tarefa, uma brasileira meio despercebida na esplanada diz-me que finalmente vê portugueses. Estranho, mas sempre lhe digo que só agora viu vários. Trocamos felicidades e lá vou, à procura dos parceiros que se adiantaram um pouco.
A dada altura, o Pajó segue por estrada. Ele diz que nos perde o rasto. Nós seguimos sempre, subida acima, descida abaixo. Há dois espanhois que treinam btt e vão-se cruzando connosco aqui e ali. Numa dada subida, o mais rápido alcança-me e eu sigo-lhe a roda. Não há alforges que me impeçam de o seguir e a adrenalina sobe. Fico com os bofes de fora no topo, altura de esperar pelo Zé, que continua na sua luta heroica de vencer cada subida que se lhe atravesse no caminho, mesmo que tudo lhe doa, mesmo que tudo o puxe para trás. E com a ganância de ultrapassar os tais espanhois, engano-me e levo o Zé ao engano, numa descida com várias opções. Temos de voltar atrás e retomar as setas. Voltamos a ver os espanhois no início de uma outra subida. Aceleramos e passa-mo-los em grande, os dois, até alcançar o Monte do Gozo e vislumbrar finalmente a bela ciudad de Santiago de Compostela. Encho-me de orgulho repentino, deliro por dentro. Se calhar, tenho razões para isso. Partilho com o Zé a alegria. À entrada da cidade, esperava o Pajó. Tinha vindo por estrada, novamente. Também não é fácil, mas mais direto, sim. Atravessamos lentamente as ruas de Compostela e aqui sim, saboreamos o nosso monte do gozo ou as ruas do gozo. São quase 9 horas, a cidade está em festa e assim continuará pela semana toda. Muita gente bonita. Muita gente instalada na praça principal, saboreando naquele lugar e naquele momento muitos dos momentos que os levaram até ali. É preciso ir buscar a Compostela, documento comprovativo do caminho realizado e que premeia o esforço de todos os que o fazem, seja a cavalo, de bici ou a pé. Cada uma terá as suas dificuldades. Ando perdido para encontrar o lugar onde me hão-de passar o tal documento. Os meus parceiros, que já sabem do lugar, adiantaram-se quando eu resistia a pedalar em contra-mão. Mas, depois de várias voltas, lá está o edifício. Entro quase à tangente. Fecha às 9 e faltam pouquíssimos minutos.
Depois de pedalar cerca de 120 kms em 8h e 36', e após umas fotos na praça para testemunho futuro, altura de procurar um albergue. O problema é que há imensa gente e os albergues andam esgotados ali no centro. Temos de nos deslocar mais para a periferia. Depois de mais 10 kms em cima, lá o encontramos. Moderníssimo, net gratuita, mas o mesmo conceito de muitos outros. Antes, havia entrado num outro, de nome Acuário. O cheiro a pato-xóli e uma cerimónia do tipo sociedade secreta, com toda a gente sentada À volta de uma mesa e um "sacerdote" adereçado de azul-cetim, fez-me concluir que ali não seria um lugar muito bom para uma noite descansada. A questão é que também no moderno albergue que nos acolheu a noite não foi nada pacífica; o ressonar de vários compinchas e o ar saturado, quase irrespirável, permitiu-me dormir apenas duas horas, talvez. É que na madrugada seguinte teríamos de estar na estação de ferro às 5h30'. Não, isto ainda não tinha acalmado.

O regresso foi conforme o esperado, excepto a qualidade dos serviços. Qualquer comparação entre os comboios regionais galego e português é apenas possível nos carris onde circulam. De resto...só para terem uma ideia, o nível do regional galego é superior em praticamente tudo ao alfa português. No regional português tive a sensação de regressar aos anos 70, quando os homens corriam a salto para França, arriscando a vida em rios, em montanhas, em denúncias e outras surpresas.

Fica acertado fazer o balanço final, mas hoje ainda me sinto cansado e é chegada a altura para me ir aconchegar nos lençóis.

Um abraço, companheiros.